Com um auditório lotado, foi lançado oficialmente o projeto Territórios Saudáveis e Sustentáveis na Promoção do Cuidado: Abordagem Interseccional e Intersetorial na Promoção da Saúde. A proposta busca fortalecer a saúde nos territórios com uma abordagem intersetorial, participativa e centrada no cuidado, incorporando ainda recortes interseccionais que consideram aspectos sociais, étnico-raciais e de vulnerabilidade. Com duração de três anos (2025–2027), o projeto será implementado em territórios estratégicos, abrangendo as 27 unidades da Federação, com início pelas regiões Norte e Nordeste. Os cinco primeiros territórios que receberão as formações ainda neste mês são: Breves (PA), Codó (MA), Mossoró (RN), Marabá (PA) e Cachoeira (BA), envolvendo diretamente ou indiretamente 78 municípios.

O lançamento contou com a presença de representantes de movimentos sociais, instituições de ensino, gestores públicos e pesquisadores, todos reunidos com um objetivo comum: construir, de forma coletiva, caminhos para transformar os territórios em espaços promotores de saúde, sustentabilidade e justiça social. A iniciativa é do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (Psat) da Fiocruz Brasília, em parceria com o Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde (Depros) da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, por meio de Termo de Execução Descentralizada (TED) 168/2024.
“Acreditamos firmemente que a saúde se constrói nos territórios, com a participação ativa da população e o olhar atento das políticas públicas. É essencial que o poder público esteja presente, lado a lado com a comunidade, para construirmos juntos um futuro mais saudável e justo para todos. Iniciativas como esta representam a concretização do compromisso da instituição com a defesa da vida, da equidade e da cidadania. Promover saúde é também promover dignidade, pertencimento e justiça”, afirmou a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, durante a mesa de abertura. Ela também destacou que o projeto dialoga com uma mudança de paradigma no campo das políticas públicas, que hoje exige escuta sensível, ação coletiva e protagonismo social.
Durante o evento, representantes de diferentes setores ressaltaram o ineditismo e a relevância da iniciativa. Para Jorge Machado, pesquisador e um dos coordenadores do Psat, o projeto toca em aspectos estruturantes da saúde pública brasileira. “Sabemos que o caminho para uma saúde plena passa pela sustentabilidade, pela escuta atenta da comunidade e pela união de diferentes setores. Nosso desafio é grande, mas acreditamos no poder da ação conjunta para transformar realidades”, pontuou.
A representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Ana Emília Moreira, afirmou estar convicta de que é possível construir, de forma coletiva, territórios onde a saúde floresça em sua integralidade. “A emoção que sinto reflete a urgência e a esperança que este projeto representa para tantas comunidades”, ressaltou.
A diretora do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde do Ministério da Saúde, Angela Fernandes, destacou que o projeto está alinhado à visão de saúde construída em parceria com as comunidades, valorizando seus saberes e suas necessidades. Para ela, a intersetorialidade e o protagonismo local são elementos essenciais para enfrentar, de forma eficaz e sustentável, os desafios da promoção da saúde no Brasil.
Já o secretário-adjunto da Secretaria Nacional de Participação Social da Presidência da República, Valmor Schiochet, reforçou que a parceria com a Fiocruz é um caminho para fortalecer ainda mais a participação social nos territórios. A conselheira nacional de saúde, Franscylane Vitória da Silva, celebrou o compromisso da Fiocruz com a formação crítica e a ampliação da democracia participativa. “Acreditamos que a formação de profissionais qualificados nessa área é crucial para o avanço da democracia e da saúde em nosso país”.
O projeto
O Territórios de Cuidado é voltado para lideranças de organizações e movimentos sociais que atuam na promoção da saúde, participantes de conselhos de direitos, gestores e trabalhadores de instituições públicas. Em um primeiro momento, foram identificadas e mobilizadas organizações sociais, movimentos populares e instituições públicas que atuam com promoção da saúde e redes de cuidado.
A proposta prevê ainda uma intensa agenda de oficinas de articulação sobre a temática da promoção da saúde, além de cursos de formação, que terão início este mês, em Mossoró. As ações formativas abordarão temas como determinação social da saúde, territórios e modos de vida, cultura e saúde, promoção da saúde e participação social. O projeto surge como desdobramento de experiências anteriores da Fiocruz Brasília em promoção da saúde, vigilância popular e articulação em rede. Os territórios foram selecionados com base em critérios como a presença de movimentos e organizações sociais, índices de vulnerabilidade social, insegurança alimentar e nutricional, e presença de população quilombola.
Para a pesquisadora do Psat e coordenadora de formação do projeto, Gislei Knierim, é imprescindível garantir a presença dos movimentos sociais nos processos formativos, independentemente do nível de escolaridade de seus representantes. “A gente acredita e defende que precisamos ampliar o imaginário da nossa população sobre o que é promoção da saúde e o que temos construído historicamente sobre saúde. Afinal, saúde é o reflexo da luta e o SUS é fruto dessa construção coletiva de trabalhadores da saúde, pesquisadores e gestores — e isso permanece como princípio nos nossos processos formativos”, afirmou.
Ela reforçou ainda que o projeto busca interiorizar as ações de formação, levando conhecimento e diálogo para regiões afastadas dos grandes centros urbanos. “Vamos trabalhar com sujeitos coletivos que têm compromisso com suas comunidades. Queremos aproximar o SUS da realidade local e, com isso, revelar o que os grupos organizados daqueles territórios já constroem em termos de promoção da saúde — desde os modos de se alimentar e produzir a vida até as formas de organização comunitária. Nosso objetivo é construir saberes que colaborem com políticas públicas mais alinhadas às realidades locais”, concluiu.
O evento de lançamento do projeto contou ainda com mesas de debate. A integra está no YouTube da Fiocruz Brasília.