A Fiocruz reuniu representantes de áreas da instituição que atuam no Cerrado para planejar as ações do projeto Prospecção Fiocruz Cerrados até dezembro e definir estratégias para os anos seguintes, até 2029. O projeto visa construir uma intervenção regular, organizada e integrada da Fundação em defesa e promoção da sociobiodiversidade do bioma.

Representantes de seis unidades (Bahia, Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí e Brasília) da Fiocruz participaram da reunião. Para Guilherme Franco Netto, coordenador de Saúde e Ambiente da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz) e do projeto, o Cerrado é uma grande escola de aprendizado. “São pelo menos 13 mil anos de vivência humana no território e é preciso considerar o que a sociedade, especialmente os povos originários e comunidades tradicionais, realizam no seu cotidiano”, disse.
O vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, Valcler Rangel, ressaltou duas dimensões do projeto que dialogam com as diretrizes da Fundação: o trabalho com os territórios e a integração das agendas. O vice-presidente frisou a importância do conhecimento tradicional das comunidades e o papel da comunicação no reconhecimento e valorização da cultura e diversidade. “A comunicação se transformou numa determinante social da saúde. É necessário uma boa comunicação para lidar com essa diversidade”, completou.
A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, destacou a importância do Cerrado como berço das águas do Brasil e reforçou o compromisso da Fiocruz com a defesa do bioma frente às mudanças climáticas. Ela também pontuou a necessidade de construir redes de proteção ao Cerrado e a promoção de ações integradas entre as unidades para atuar numa perspectiva de justiça climática, considerando o racismo ambiental e as desigualdades sociais. “Falar do Cerrado é também falar desses enfrentamentos”, afirmou.
Os desafios frente à devastação do Cerrado e a necessidade de fortalecer uma rede de articulação para enfrentar os problemas foram destacados pelo chefe de Gabinete da Presidência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio. “O projeto é uma construção coletiva e isso será a nossa grande fortaleza. Temos conhecimento e capacidade de estudo. Agora é necessária uma grande rede de articulação para fortalecer a iniciativa com as unidades locais que participam do processo, além de outras instituições que estão no território”, destacou.
Durante a reunião, a gestora de projetos da Diretoria Executiva da Fiocruz, Juliana Garcia Gonçalves, exibiu uma modelagem de planejamento para o projeto. Em seguida, a equipe da Prospecção apresentou os principais produtos alcançados, como a sistematização do material documental; a metodologia do trabalho de coleta e análise de dados; o plano mental; as cooperações firmadas; e outros resultados da iniciativa.
Até o momento, o projeto mapeou 177 instituições públicas e privadas, organizações não governamentais e instituições de ensino. A coleta dos dados gerou um relatório de 212 páginas, que está em fase de conclusão. Os dados são dos governos do Distrito Federal, Goiás e Tocantins, entretanto, de acordo com a coordenação do projeto, existe a intenção de estender para outros estados.
A iniciativa da Fiocruz segue esse ano apoiando diversas ações no Cerrado, entre elas estão o Raízes – Encontro de Raizeiros, Parteiras, Benzedeiras e Pajés, que ocorrerá de 15 a 18 de maio na Chapada dos Veadeiros, e o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), de 10 a 15 de junho na cidade de Goiás, do qual a Fiocruz é coorganizadora.
Além disso, em 13 de agosto, na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás), será realizado um seminário sobre a prospecção, com a participação de diversos convidados e unidades da Fiocruz. Em 14 de agosto a equipe do projeto participará da oficina de planejamento referente ao período de 2026-2029.
O Cerrado ocupa cerca de 24% do território nacional mas, considerando a perspectiva dos sistemas biogeográficos, pode chegar a 36%, atingindo 16 estados e o Distrito Federal. Mais da metade do seu território já foi desmatado – principalmente na região do Matopiba (Bahia, Piauí, Tocantins e Maranhão) – e a perda dessa biodiversidade impacta significativamente na saúde das populações e na vida de outros biomas.
Na abertura da reunião, os participantes fizeram um minuto de silêncio em memória do vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Aurélio Krieger, falecido em 28 de abril. Referência nacional em temas como imunização e vacinas, Krieger teve papel fundamental para o país durante a pandemia de Covid-19.