A Fiocruz está promovendo um treinamento de captura inteligente de dados para os integrantes da Rede de Observatórios da estratégia denominada Vigilância Digital e de Prevenção do Feminicídio (Vigifeminicídio), no Estado do Acre. O treinamento começou nesta segunda-feira (26/5) e seguirá até o dia 29, na Universidade Federal do Acre, em Rio Branco, com a participação de docentes, discentes, representantes da coordenação do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC-UFAC) e representantes de instituições públicas e organizações não governamentais ligadas à temática. O objetivo é fortalecer a rede de monitoramento da violência letal contra as mulheres na Amazônia Ocidental, contando com mais uma capital parceira na Região Norte. A rede já conta com campos em Manaus, Porto Velho, Rio de Janeiro e prevê a inserção de Boa Vista ainda em 2025, cobrindo as quatro capitais da Amazônia Ocidental brasileira, ou cerca da metade da população feminina de Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima.
“Há cerca de dois meses, tivemos o mesmo treinamento em Porto Velho e para o campo do Rio de Janeiro. Agora, mais uma capital amazônica, Rio Branco, passa a integrar a rede digital de observatórios, o que para nós é extremamente gratificante, pois demonstra que estamos ampliando a proposta em direção à consolidação da estratégia Vigifeminicídio. por entendermos que quanto mais corpo tiver a rede de monitoramento da violência letal contra as mulheres, maiores serão não apenas as chances de contribuirmos para a interação com órgãos de controle, atores da segurança pública, movimentos sociais e serviços de saúde na região, como também, de contribuirmos com a visibilização do feminicídio e suas causas, fundamentais ao seu enfrentamento e prevenção”, explica o pesquisador da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana.
O treinamento será ministrado pela pesquisadora e epidemiologista Fernanda Sindeaux Camelo, também mestranda do Programa de Pós-Graduação em Condições de Visa e Saúde na Amazônia da Fiocruz Amazônia. Na ementa do curso, os participantes conhecerão e usarão o formulário estruturado do projeto, especificamente desenvolvido para a coleta dos dados dos assassinatos femininos, com detalhadas orientações sobre como fazer o preenchimento e validação adequada das cerca de 80 variáveis do estudo, incluindo dados operacionais, voltados a identificação de cada óbito, mas sobretudo, àqueles que garantirão uma inédita caracterização das circunstâncias da vitimização letal dessas mulheres, como o local da ocorrência da agressão letal, características sociodemográficas (cor de pele, estado civil, orfandade, pe.) e as circunstâncias da vitimização em si (tipo de arma usada pelo agressor, uso de álcool, hora da agressão etc.).
Além disso, a programação abordará a interpretação e uso do dicionário de dados do projeto, material instrucional fundamental à captura e armazenamento dos dados. Também serão abordados conceitos e estratégias cruciais à consulta e extração de dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e do Judiciário brasileiro, além de ferramentas como o GoogleBot, raspagem de dados manual e automizada com e sem o robô de busca do Projeto (FemiBot). Finalmente, será abordada a integração dos dados extraídos das fontes principais do projeto, com os dados de noticiário, mediante atividades práticas para cada uma uma das etapas, uma vez que a parte teórica foi esgotada na semana passada remotamente.
“A expectativa, em médio prazo, é que o campo do Rio Branco, assim como os demais, adquiram autonomia no gerenciamento e análise de dados, fortalecendo não apenas a vigilância de óbitos e a integração entre ensino-pesquisa-serviços de saúde no âmbito do Sistema único de Saúde e no Sistema de Segurança Pública, como também contribuía à produção acadêmica, com dissertações, teses e artigos temáticos e para o aperfeiçoamento de políticas públicas que visem enfrentar e prevenir a violência de gênero, um grave e desafiador problema no Brasil e no mundo”, afirma o pesquisador da Fiocruz Amazônia.