Novo livro da Editora Fiocruz investiga as raízes e permanências da eugenia como forma de desigualdade social

Novo livro da coleção Temas em Saúde, Eugenia: Ontem e Hoje
Por Julia Sirena e Paulo Bellardi
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Apesar dos avanços conquistados por diversos movimentos sociais, formas de discriminação como o racismo, a misoginia, a LGBTQIA+fobia e o capacitismo seguem presentes na sociedade, muitas vezes sustentadas por ideias que têm raízes históricas profundas. É nesse contexto que a Editora Fiocruz lança Eugenia: ontem e hoje, de Robert Wegner. Na obra, o sociólogo brasileiro traça a trajetória da eugenia desde seu surgimento como teoria científica até suas manifestações contemporâneas, revelando como esse pensamento continua influenciando práticas de exclusão e hierarquização humana.

Nos primeiros capítulos, o autor revisita o surgimento da eugenia no fim do século XIX, entendida à época como uma “ciência” voltada à melhoria biológica da população e à construção de ideais nacionalistas. No século XX, movimentos eugênicos ganharam força em países como Inglaterra, Estados Unidos, Brasil e Alemanha — onde se consolidaram como parte central da ideologia nazista, com consequências trágicas e genocidas.

Embora desacreditada após a Segunda Guerra Mundial, Wegner aponta que a lógica eugênica ainda persiste, travestida em práticas de exclusão e hierarquização de grupos sociais. “Podemos encontrar muitas reverberações das ideias e das práticas eugênicas até os dias atuais, manifestando-se por meio do racismo, misoginia, homofobia, xenofobia, capacitismo e outras formas de hierarquização dos seres humanos”, afirma o autor.

Na segunda parte do livro, o autor discute políticas de controle populacional, os debates sobre o Projeto Genoma Humano, a bioética e os desafios colocados pelas tecnologias de reprodução assistida. Amparado em teorias como a biopolítica de Michel Foucault, Wegner analisa como o Estado regula a vida por meio de estatísticas e políticas públicas, estabelecendo quem merece viver — e quem pode morrer.

Entre os exemplos práticos discutidos está o caso da sífilis, utilizado por Marília Sá Carvalho como ilustração da complexidade de problemas de saúde pública que envolvem múltiplas dimensões sociais, econômicas, políticas e científicas — destacando a importância de abordagens integradas.

Para Wegner, reconhecer as diferentes formas de racismo e exclusão é essencial para enfrentá-las: “É importante pensarmos que o racismo opera sempre que instituições, o Estado ou a sociedade classificam e hierarquizam pessoas com base em critérios como gênero, deficiência, sexualidade ou origem.”

Eugenia: ontem e hoje é uma leitura essencial para quem deseja compreender as transformações históricas da eugenia e suas manifestações contemporâneas. A obra oferece, além de nove capítulos analíticos, uma linha do tempo com referências e eventos históricos, contribuindo para a construção de uma crítica fundamentada às desigualdades persistentes.

📚 O livro está disponível nas livrarias físicas da Editora Fiocruz e para acesso gratuito no portal SciELO Livros: