Grupo de trabalhadores da Fiocruz realiza seu primeiro encontro com foco no protagonismo surdo

Por Nathalia Mendonça (Cooperação Social da Fiocruz)
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No dia 9 de maio, o grupo “Sobre Nós”, composto pela equipe de suporte do projeto Empregabilidade Social da Pessoa Surda em conjunto com os Serviços de Gestão do Trabalho (SGTs) das unidades, promoveu um encontro no auditório do Museu da Vida Fiocruz e realizou atividades lúdicas, dinâmicas de integração, dança, exibição de filmes e debates. A atividade teve como objetivo promover a integração, discutir estratégias e estreitar relações com trabalhadores surdos integrantes do projeto e gestores, como também pessoas dos setores envolvidos nesta relação.  

A primeira ação foi realizada no auditório do Museu da Vida Fiocruz e contou com a presença dos trabalhadores surdos, ouvintes e coordenadores de unidades da instituição. O grupo busca fortalecer ações de equidade e realizar atividades que integrem o plano estratégico e ações da Fundação Oswaldo Cruz, com foco na inclusão de trabalhadores surdos, promoção de acessibilidade, saúde, educação e desenvolvimento científico e tecnológico.  

Primeira ação do grupo Sobre Nós no auditório do Museu da Vida Fiocruz

A criação do grupo “Sobre Nós” surgiu diante da necessidade de sensibilização dos setores, reivindicações por melhorias, troca de experiências, fortalecimento coletivo e mobilização de unidades parceiras do projeto que possuam trabalhadores surdos atuantes em sua equipe. A equipe idealizadora da ação mobilizou gestores e pessoas envolvidas na relação com os trabalhadores surdos para uma reflexão sobre o trabalho e os entraves da comunicação que — de forma direta ou indireta — impactam o desempenho do trabalhador.

O projeto de Empregabilidade Social da Pessoa Surda, tem como objetivo promover a inserção de trabalhadores surdos na Fiocruz através de postos de trabalho e processos formativos, colaborando com o fortalecimento da política de acessibilidade e inclusão da Fiocruz. A Cooperação Social da Presidência da Fiocruz realiza a coordenação conjuntamente à Coordenação Geral de Gestão de Pessoas (Cogepe).

“O projeto existe há 30 anos na Fiocruz e tem o objetivo de inserir trabalhadoras e trabalhadores surdos no mercado de trabalho, por meio de vagas na instituição além da formação cidadã e profissional. É uma forma de contribuir para que a acessibilidade e a inclusão sejam, de fato, parte de um processo que amplie a luta por políticas públicas e contra o capacitismo presente em nossa sociedade”, disse Leonídio Santos, Coordenador da Cooperação Social da Fiocruz.  

“É importante destacar que a inclusão não se resume a contratação — é preciso garantir acessibilidade, adaptar processos e garantir a permanência desses profissionais nos ambientes de trabalho”, detalhou,  “No processo formativo, nos debruçamos sobre temas como as desigualdades sociais; condições de trabalho na Fiocruz e no mercado de trabalho; qualificação profissional e formação escolar; a participação organizada, de maneira estruturada, se torna estratégica para a formação de sujeitos de direitos”.

Trabalhadores surdos realizam dinâmica durante evento. Na imagem, uma roda de trabalhadores sinaliza em Libras sobre a temática de trabalho

Walkiria Pontes, integrante da equipe de suporte do projeto de Empregabilidade Social da Pessoa Surda e participante do grupo Sobre Nós, indicou que o grupo busca o estreitamento dos SGTs para sensibilizar as unidades e fomentar uma reflexão sobre a relação de trabalho entre ouvinte e surdo. “O grupo surgiu a partir de uma articulação para promover a sensibilização e construção de pontes junto aos SGTs, de forma que aconteçam desdobramentos nas unidades e criação de caminhos para encaminhar as demandas, favorecendo o potencial do trabalhador surdo e considerando a equidade na realidade laboral”, explicou.

O direito à comunicação é reconhecido como direito fundamental pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e considerado essencial para uma sociedade democrática. Apesar disso, em diversos níveis, territórios e com diferentes grupos sociais, existem dificuldades para seu pleno exercício. No caso específico dos trabalhadores surdos, o não entendimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) por parte dos ouvintes é um desafio para garantia do direito de expressão e à informação.

Trabalhadores surdos debatem condições de trabalho, equidade e inclusão

“Meu nome é Rafaela, esse é meu sinal. A minha opinião é que esse tipo de encontro é um tema que dá empoderamento, que mostra a questão das leis, que tem essa luta, essa identidade surda, é um tema que o ouvinte também precisa vir participar para conhecer. É importante fortalecer o debate das lideranças surdas. A gente precisa de liderança e empoderamento surdo”, sinalizou a trabalhadora do Museu da Vida que também esteve presente no evento.

Sobre o protagonismo surdo, Flávia Amazzo, trabalhadora do Serviço de Gestão do Trabalho (SGT) do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz), afirmou que o evento foi muito importante tanto para comunidade surda quanto para o SGTS e para os supervisores e chefias que estavam participando. “O protagonismo surdo não se limita somente à questão do uso da língua de sinais. Envolve também a valorização da identidade surda, cultura e oportunidades de trabalho. Institucionalmente, a gente entendeu que seria importante que a Fiocruz promovesse esses encontros voltados aos interesses da comunidade surda, favorecendo o diálogo, o acesso a pautas relevantes e a inclusão nas equipes”, afirmou.  

O grupo Sobre Nós foi criado a partir da articulação de colaboradores das diferentes unidades da Fiocruz: Museu da Vida Fiocruz, Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz), Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz), Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (ESPJV/Fiocruz), Coordenação-geral de Infraestrutura dos Campi (Cogic/Fiocruz) e Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB/Fiocruz).  

Participantes da primeira ação do grupo Sobre Nós no pal do Museu da Vida Fiocruz

Fotografias presentes no texto: Nathalia Mendonça