A Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) da Fiocruz reuniu, no dia 30 de abril, representantes de várias áreas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que atuam no Cerrado. Dentre elas, seis unidades da Fiocruz: Bahia, Brasília, Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Piauí.
Na abertura da reunião, os participantes fizeram 1 minuto de silêncio em memória ao vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Aurélio Krieger, falecido no dia 28 de abril. Referência nacional em temas como imunização e vacinas, Krieger teve papel fundamental para o país durante a pandemia de Covid-19.
O objetivo da reunião foi planejar as ações do Projeto Prospecção Fiocruz Cerrados até dezembro de 2025 e definir estratégias para os anos seguintes, até 2029. O projeto iniciado em 2024 visa construir uma intervenção regular, organizada e integrada da Fiocruz em defesa e promoção da sociobiodiversidade dos Cerrados.
O Cerrado ocupa cerca de 24% de território nacional, mas considerando a perspectiva dos sistemas biogeográficos, pode chegar a 36%, atingindo 16 estados e o Distrito Federal. Mais da metade do seu território já foi desmatado - principalmente na região do Matopiba entre Bahia, Piauí, Tocantins e Maranhão - e a perda dessa biodiversidade impacta significativamente na saúde das populações e na vida de outros biomas.
Para Guilherme Franco Netto, coordenador de Saúde e Ambiente e do projeto, o Cerrado brasileiro é uma grande escola de aprendizado. “São pelo menos 13 mil anos de vivência humana desse território e é preciso considerar o que a sociedade, especialmente os povos originários e comunidades tradicionais, realizam no seu cotidiano nesses territórios”, disse.
A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, destacou a importância do Cerrado como berço das águas do Brasil e reforçou o compromisso da Fiocruz com a defesa do bioma frente às mudanças climáticas. Ela também pontuou a necessidade de construir redes de proteção ao Cerrado e a promoção de ações integradas entre as unidades para atuar numa perspectiva de justiça climática, considerando o racismo ambiental e as desigualdades sociais. “Falar do Cerrado é também falar desses enfrentamentos”, afirmou.
O vice-presidente da VPAAPS, Valcler Rangel, ressaltou duas dimensões do projeto que dialogam com as diretrizes da Fundação: o trabalho com os territórios e a integração das agendas. O vice-presidente ainda frisou a importância do conhecimento tradicional das comunidades e o papel da comunicação no reconhecimento e valorização da cultura e diversidade. “A comunicação se transformou numa determinante social da saúde. É necessário uma boa comunicação para lidar com essa diversidade”, completou.
Os desafios frente a devastação do Cerrado e a necessidade de fortalecer uma rede de articulação para enfrentar os problemas foram destacados pelo chefe de gabinete da Presidência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio. “Esse projeto é uma construção coletiva e isso será a nossa grande fortaleza. Temos conhecimento, capacidade de estudo e agora é necessário uma grande rede de articulação para fortalecer a iniciativa com as unidades locais que estão participando desse processo, além de outras instituições que estão no território”, destacou.
Durante a reunião, a gestora de projetos da Diretoria Executiva da Fiocruz, Juliana Garcia Gonçalves, exibiu uma modelagem de planejamento para o projeto. Em seguida, a equipe da Prospecção apresentou os principais produtos alcançados, como a sistematização do material documental; a metodologia do trabalho de coleta e análise de dados; o plano mental; as cooperações firmadas; e outros resultados da iniciativa.
Até o momento, o projeto mapeou 177 instituições públicas e privadas, organizações não governamentais e instituições de ensino. A coleta dos dados gerou um relatório de 212 páginas, que está em fase de conclusão. Os dados são do Distrito Federal, Goiás e Tocantins, entretanto, de acordo com a coordenação do projeto, existe a intenção de estender para outros estados do país.
A iniciativa da Fiocruz segue esse ano apoiando diversas ações no Cerrado, entre elas estão o Raízes – Encontro de Raizeiros, Parteiras, Benzedeiras e Pajés, que acontecerá de 15 a 18 de maio na Chapada dos Veadeiros, e o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), de 10 a 15 de junho na cidade de Goiás, no qual a Fiocruz é coorganizadora do evento.
Além disso, no dia 13 de agosto, na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), será realizado um seminário sobre a Prospecção com a participação de diversos convidados e unidades da Fiocruz. No dia 14 de agosto, a equipe do projeto participará da oficina de planejamento referente ao período de 2026-2029.