A aposentadoria é uma fase da vida que vai muito além de cálculos financeiros e regras previdenciárias. Segundo a psicóloga Thaysa Garcia, coordenadora do Núcleo de Atenção à Saúde do Trabalhador Maduro (Naistm/CST/Cogepe), essa transição pode ser vivida como uma conquista ou um desafio, dependendo de fatores individuais e sociais. “A aposentadoria é também a burocracia, direitos, legislação e planejamento financeiro. Não se pode desconsiderar esses aspectos pragmáticos, mas não se resume somente a isso”, explicou Thaysa.
Em sua apresentação na terceira edição do Ciclo de Palestras sobre Aposentadoria, Thaysa destacou que o desligamento do trabalho não é apenas um marco temporal, mas um processo de adaptação que pode gerar satisfação e bem-estar ou desencadear crises e sofrimento. "O trabalho é cheio de contradições. Ele ajuda, mas pode também nos adoecer. A forma como o vivenciamos influencia diretamente a maneira como enfrentamos sua ausência. Muitas vezes, a identidade e as relações sociais estão fortemente ligadas ao ambiente profissional, o que pode tornar difícil esse período de transição", pontuou a psicóloga.
Mais tempo no trabalho
O contexto atual reforça a necessidade de um olhar mais amplo sobre a aposentadoria. O envelhecimento populacional e a permanência crescente de pessoas acima dos 50 anos no mercado de trabalho trazem desafios e novas oportunidades. De acordo com dados do IBGE, a participação de pessoas com 40 anos ou mais na força de trabalho cresceu de 38,6% para 45,1% entre 2012 e 2023. Além disso, estudos apontam que até 2040, 6 a cada 10 trabalhadores terão 45 anos ou mais, evidenciando a importância de preparar essa transição de forma estruturada.
A especialista alertou para a necessidade de um planejamento que vá além das finanças, incluindo o fortalecimento de redes sociais, a busca por novos propósitos e a reflexão sobre o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. “Há equívocos comuns nesse processo, como planejar a aposentadoria de forma linear, sem considerar valores, condições de vida e recursos emocionais. Também é frequente associar esse momento exclusivamente à inatividade ou à perda de identidade, quando, na verdade, ele pode representar um novo ciclo”, explicou.
Balança da aposentadoria
A decisão de se aposentar envolve uma balança de fatores. Questões financeiras, status e relações sociais no ambiente profissional podem postergar a saída, enquanto sofrimento no trabalho, desejo de mais tempo livre e a busca por novas experiências podem antecipá-la. O desafio está em compreender esses elementos e construir um plano que favoreça uma transição saudável e satisfatória. “A aposentadoria não é um fim, mas uma oportunidade para novas possibilidades. O mais importante é garantir que esse momento seja vivido com qualidade de vida, bem-estar e sentido”, concluiu Thaysa.
PPA
O Programa de Preparação para Aposentadoria (PPA), coordenado pelo Naistm, atua justamente para apoiar os trabalhadores nesse momento. Com uma abordagem multidisciplinar e crítico-reflexiva, o programa oferece módulos educativos que abrangem desde aspectos pragmáticos da aposentadoria até planejamento de vida, equilíbrio emocional e construção de novas rotinas. “O Programa de Preparação para Aposentadoria busca promover espaço de cuidado e reflexão para com os trabalhadores nos ciclos de finais de trabalho e em transição para aposentadoria dentro da perspectiva da Saúde do Trabalhador”, enfatizou Thaysa.