O processo de desmame e desfralde infantil é um marco importante no crescimento da criança e deve ser conduzido com paciência, empatia e respeito ao tempo de cada pequeno. As birras são acontecimentos difíceis para os pais, mas, com informação e empatia, é possível passar por elas sem danos. Foi o que falaram as convidadas, Isis Brasil, enfermeira do Trabalho do Núcleo de Saúde do Trabalhador (Nust/CST/Cogepe), e Julia Coimbra, psicóloga da creche Fiocruz, durante roda de conversa realizada pelo projeto Diálogos com a enfermagem: vivenciando a maternidade no trabalho, na última terça-feira (18/3).
Desmame: uma transição em etapas
O início do processo de desmame pode ser feito com a organização das mamadas durante o dia, já que o desmame noturno é uma das fases mais desafiadoras para mães e bebês. A fim de ter sucesso, o ideal é que a criança já tenha reduzido as mamadas diurnas antes de iniciar a retirada durante a noite. Segundo Isis, a adaptação pode ser difícil nos primeiros dias, mas a criança precisa compreender que, ao chorar, será acolhida pela mãe, pai ou outro cuidador. “Muitas vezes, a necessidade de amamentação não está ligada apenas à fome, mas ao desejo de proximidade com a mãe”.
Uma estratégia recomendada pela especialista é oferecer uma garrafinha de água antes de dormir para que a criança possa saciar sua sede sem recorrer à amamentação. Isis mencionou que a transição deve ser feita com paciência e compreensão, respeitando o ritmo de cada bebê. “Na terceira fase do desmame, as mamadas diurnas devem ser eliminadas gradualmente. Técnicas como o encurtamento da mamada e a utilização de músicas para sinalizar o fim do momento podem ser eficazes. Quando o processo estiver finalizado, muitos pais realizam uma celebração simbólica, com álbuns de fotos e registros para que a criança compreenda e valorize sua evolução”, ensinou Isis.
Uma das recomendações de Isis é a literatura infantil, que pode ser uma grande aliada nesse momento. Livros como Tchau, tete! e O mama é da mamãe e Mamar quando o sol raiar ajudam a criança a compreender esse encerramento de maneira lúdica e acolhedora.
O retorno ao trabalho
O retorno ao trabalho não deve ser visto como um impedimento para a continuidade da amamentação. Há alternativas como a ordenha do leite materno, que pode ser armazenado para ser oferecido ao bebê durante a jornada de trabalho. Apesar de ser um processo cansativo, é possível manter a amamentação caso seja o desejo da mãe. O mais importante é que o desmame aconteça de forma respeitosa, levando em conta as necessidades tanto da mãe quanto do bebê.
Assim como o desmame, o desfralde também deve respeitar o tempo e a maturidade da criança. O processo geralmente se inicia a partir dos dois anos de idade, mas não há um tempo exato para todos. Forçar a retirada da fralda pode dificultar ainda mais essa fase. Esses foram alguns destaques realizados pela psicóloga da Creche, Julia Coimbra. “O primeiro sinal de que a criança está preparada para o desfralde é o controle dos esfíncteres. Além disso, muitos pequenos começam a pedir para tirar a fralda, o que pode estar relacionado tanto à maturidade quanto a fatores externos, como o calor excessivo, por exemplo. Os pais e cuidadores precisam ficar atentos para não confundirem a maturidade com fatores externos”, mencionou Julia.
Segundo a psicóloga, a preparação para o desfralde envolve alguns ajustes no ambiente. O penico deve ser colocado no banheiro, para que a criança compreenda sua função corretamente. Existe ainda a opção do redutor de assento com apoio para os pés. “Mas fique atento, algumas crianças possuem medo do vaso sanitário. É preciso adequar a melhor maneira para a criança de realizar o desfralde”.
No desfralde noturno, Julia mencionou algumas estratégias que ajudam na adaptação, como levar a criança ao banheiro antes de dormir, reduzir a ingestão de líquidos à noite e observar se a fralda amanhece seca por alguns dias consecutivos.
Birras: um desafio para os pais
Outro aspecto do desenvolvimento infantil é a forma como a criança lida com as frustrações. “As birras são parte do processo de amadurecimento emocional e não devem ser encaradas como manipulação ou desafio aos pais. É essencial compreender que a criança ainda não possui maturidade cerebral para lidar com sentimentos como raiva e frustração”, apontou a psicóloga.
Durante uma crise de birra, tentar argumentar racionalmente não surtirá efeito. Em vez disso, é importante nomear os sentimentos da criança e, após a crise, conversar com calma para que ela compreenda o que aconteceu. “A validação das emoções é fundamental para um desenvolvimento emocional saudável”, enfatizou Julia.
A importância de um processo gradual e respeitoso
Isis destacou que o desmame, o desfralde e o aprendizado emocional são partes de um grande ciclo de crescimento infantil que requer paciência e acolhimento. A cada fase, a criança aprende novas habilidades e ganha mais independência, tornando-se mais segura e confiante para enfrentar os desafios do desenvolvimento.
Projeto Diálogos com a Enfermagem
O projeto Diálogos com a enfermagem: vivenciando a maternidade no trabalho é uma iniciativa da equipe de enfermagem do Núcleo de Saúde do Trabalhador (Nust/CST/Cogepe). Objetivo é oferecer um espaço acolhedor no ambiente de trabalho, onde as mães trabalhadoras recebem orientações, desmistificar dúvidas e compartilhar experiências, medos e expectativas. O Diálogos com a Enfermagem é idealizado por Isis Brasil e, atualmente, é coordenado pelas enfermeiras Michelle Caldas e Thaís Alencar.