A cidade do Rio de Janeiro terá 12 murais artísticos executados em afresco por alunos do curso A Arte e a Técnica do Afresco, cujo encerramento será marcado por uma cerimônia em 24/8, às 14h, na Tenda da Ciência Virgínia Schall do Museu da Vida, no campus da Fiocruz em Manguinhos, na capital fluminense.
A iniciativa da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), coordenada pela Oficina-Escola de Manguinhos (OEM), contemplou cinco edifícios de uso público localizados em Manguinhos (Biblioteca Parque de Manguinhos e Igreja São Jerônimo Emiliani), Maré (Igreja Nossa Senhora dos Navegantes) e Jacarepaguá (Igreja São José Operário e Museu Bispo do Rosário arte Contemporânea).
O evento incluirá o lançamento de dois filmes da cineasta Cristiana Grumbach. Um deles registra a experiência do curso; o outro, intitulado Bandeira de Mello e a arte do afresco, é a segunda edição da série Mestres e Ofícios da Construção Tradicional Brasileira, que tem como objetivo registrar e divulgar o universo dos ofícios tradicionais que permeiam o patrimônio arquitetônico brasileiro. Alguns murais ainda estão sendo executados, devendo ser concluídos em setembro.
Obras em vários bairros da cidade
O curso A Arte e a Técnica do Afresco beneficiou importantes espaços abertos ao público, entre os quais a Biblioteca Parque de Manguinhos. Nesse edifício, diferentes artistas pintaram seus murais sobre as paredes internas do foyer do Cineteatro Eduardo Coutinho: Alex Nery e Juciney Barbosa (Nen), que buscaram inspiração no tema conhecimento; Chung Cheng Hssiung (Aiyon Chung), cujo projeto teve como base a capoeira, declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2014; Wesley Nunes Dantas, que retratou a antiga procissão marítima de São Pedro, realizada durante anos pela família Jaqueta do Morro do Timbau, na Maré; e Vinicius Queiroz Gomes, que reuniu elementos da cultura popular inspirados na obra de Ariano Suassuna e no simbolismo de Glauber Rocha, com a obra Noturno em Manguinhos.
Também em Manguinhos, na comunidade de Varginha, a igreja São Jerônimo Emiliani, visitada pelo Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude em 2013, ganhou a obra Teofania, projeto executado por Marcos Teixeira. Na Maré, zona norte do Rio, a Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes recebeu as obras Crucificação, do artista e aluno Virgílio Dias na Capela do Santíssimo; Pães e peixes, de Vladimir Valente, uma alusão ao milagre da multiplicação; e o mural coletivo pintado por Fábio Cerdera, com a obra Aparição do Divino, e Rafael Bteshe, com a obra Os pescadores do Evangelho.
O conjunto inclui ainda as obras Virgem Maria e São José Operário, de Renato Alvim, na Igreja São José Operário, edificação remanescente das remoções realizadas na Vila Autódromo, em Jacarepaguá; e Celebração, de Flávio Albano Soares, no acesso ao Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, na sede do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira, na Taquara, zona oeste do Rio.
Para executar os murais (trabalhos de conclusão do curso), os alunos tiveram colaboradores. Os auxiliares – alguns moradores de localidades próximas aos edifícios escolhidos para receber as pinturas – ficaram responsáveis pelo preparo da massa e a organização do espaço e também aprenderam a técnica do afresco, como contrapartida dos alunos, visando à transmissão e à multiplicação da arte. Diretor da Casa de Oswaldo Cruz, o historiador e pesquisador Paulo Elian destacou a seleção das áreas do projeto e a participação do pintor Lydio Bandeira de Mello:
“Este projeto é a combinação perfeita de nosso compromisso com o tema do patrimônio cultural e da sua relação com a cidade. A escolha desses espaços públicos para execução dos murais de afresco coroa uma iniciativa da qual muito nos orgulhamos. Porém, vale destacar que nossa grande fonte de inspiração foi o artista Bandeira de Mello, generoso, criativo e um parceiro incansável na concepção desse presente que oferecemos à cidade do Rio de Janeiro”, afirmou.
A iniciativa tem gestão cultural da Sociedade de Promoção da Casa de Oswaldo Cruz (SPCOC) e patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, por meio do Programa de Fomento à Cultura Carioca e da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec), e das empresas Sanofi e Concremat, através de Lei Federal de Incentivo à Cultura. Contou ainda com apoio da Universidade Santa Úrsula, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Senai-RJ.
O curso A arte e a Técnica do Afresco
O curso A Arte e a técnica do Afresco, coordenado por Cristina Coelho e Débora Lopes, é uma ação que visa preservar a pintura mural, uma forma de expressão artística com cerca de 5 mil anos. A técnica consiste em pintar diretamente sobre o revestimento ainda fresco - daí o nome afresco - da parede, em argamassa de cal, com pigmentos diluídos em água que penetram e a ele se fundem. O processo resulta em uma pintura com grande riqueza de efeitos, desde a transparência das aquarelas até a opacidade das têmperas, e livre de reflexos, o que garante sua leitura a partir de qualquer ângulo de observação.
O afresco é uma arte com grande expressão na Europa, em especial na Itália. No Brasil, ganhou evidência no início do século 20 com as obras monumentais do ecletismo e do modernismo arquitetônico brasileiro, mas nas últimas décadas a produção é pouco expressiva. O curso, que teve uma grade de disciplinas e um corpo docente adequado à proposta de resgate dessa arte e técnica, contou com o pintor Lydio Bandeira de Mello como professor titular.
Sobre Lydio Bandeira de Mello
Aos 87 anos, o mineiro Lydio Bandeira de Mello é pintor e desenhista. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes em 1951, destacando-se pelo talento e apuro técnico. Passou uma temporada na Itália, entre 1961 e 1962, período em que se dedicou a estudar grandes muralistas da Idade Média e do Renascimento. Dessa época, são destaques dois painéis no Santuário de Poggio Bustone; em uma ermida (pequena igreja) construída por São Francisco de Assis em 1209 e reconstruída parcialmente após ser atingida por terremoto em 1948.