Fiocruz Integra Acordo de Patente de Larvicida Ecológico Contra o Aedes Aegypti

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Yuri Neri (IOC/Fiocruz)
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O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) assumiu coparticipação na patente de um larvicida contra o Aedes aegypti, vetor da dengue, zika e chikungunya.  

Desenvolvida junto a universidades estrangeiras, a tecnologia usa cápsulas de óleo de laranja revestidas com fermento de padeiro (Saccharomyces cerevisiae) para matar larvas do mosquito.  

“São dois ingredientes totalmente biodegradáveis: óleo de laranja encapsulado em leveduras, ou seja, o fermento utilizado para fazer pão”, descreve o chefe do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos do IOC, Fernando Ariel Genta.  

A novidade, além de ser sustentável e não agredir o meio ambiente, não provoca efeito de resistência do Aedes aos tradicionais produtos químicos.  

Comer, comer... 
Genta brinca que “as leveduras estão para as larvas do Aedes assim como o filé-mignon está para os seres humanos”.

“A primeira vantagem da tecnologia é a questão do direcionamento. Larvas de mosquito adoram comer células de levedura e têm enzimas intestinais especializadas na digestão delas. Além disso, uma das fontes alimentares recomendadas pela literatura científica para a criação de larvas de mosquitos em laboratório é justamente as leveduras”, frisa.


Células de levedura com óleo de laranja encapsulado. Imagem: Genta e colaboradores, BMC, 2020.

Segundo o pesquisador, ocorre um processo de “delivery ambiental”, em que as cápsulas são introduzidas diretamente nos criadouros, e as larvas as consomem como alimento.  

“A cápsula não vai acumular na natureza, como acontece com pesticidas químicos. Além disso, nossos testes mostraram que essa inovação tem efeito mínimo no ambiente e em outros insetos e é totalmente segura para humanos”.  

A criação do larvicida começou, em 2017, com um projeto internacional para desenvolvimento de um larvicida sustentável, chamado ‘An Environmentally Friendly Larvicide for Mosquito Control’, parceria entre o IOC e a Universidade do Novo México (UNM).  
“Eles tinham a ideia e nós tínhamos a expertise para testar”, explica Genta, que conheceu o pesquisador Ravi Durvasula, líder do projeto, quando o convidou para ser docente no IOC de um curso sobre vetores.  

O ‘match’ acadêmico entre os dois foi inevitável e a parceria nasceu logo em seguida, com a participação ativa do IOC em testes e na elaboração do projeto. Além de Genta, também participaram o pesquisador do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos, Bruno Gomes, e alunos do Programa de Pós-graduação em Vigilância e Controle de Vetores, com estudos no Rio de Janeiro (Huarlen Ogélio e Juliana Welbert), Minas Gerais (Fabiane Brandt) e Pará (Antonilde Arruda de Sá).  

A patente, foi registrada primeiramente em nome da Universidade do Novo México, em outubro de 2023, sob proteção do United States Patent and Trademark Office (USPTO) e do Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT, na sigla em inglês).  

“A Universidade do Novo México tem um programa de empreendedorismo e inovação muito avançado e, quando houve interesse por parte de uma empresa, o processo foi agilizado sem a burocracia do lado brasileiro”, lembra Genta.

Em outubro de 2024, com apoio do Núcleo de Inovação Tecnológica do IOC (NIT-IOC) e da Coordenação de Gestão Tecnológica (GESTEC) da Fiocruz, foi firmado um Acordo de Cotitularidade de Patentes com a UNM. Por fim, em fevereiro de 2025, a Comissão de Patentes da Fiocruz aprovou o depósito da patente no âmbito do PCT.

Atualmente, a tecnologia está apta a ser comercializada e contribuir para o controle sustentável do Aedes aegypti.