Trabalhadores conheceram locais como o Instituto Pretos Novos, a Pedra do Sal e o Jardim Suspenso do Valongo. Foto: Mario Ferreira (Cedipa)
A história do povo negro no Brasil é imprescindível para a compreensão da formação sócio-histórica do país enquanto nação. É uma história de resistência e luta contra o sistema escravocrata e às diversas formas de opressão e dominação. Para resgatar e fortalecer essa memória, a Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas da Fiocruz (Cedipa) realizou, na terça-feira (25), com o apoio do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz, uma visita guiada ao Circuito da Herança Africana, na Região Portuária do Rio de Janeiro. A iniciativa fez parte da adesão da Fiocruz à 9ª edição da campanha 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo e reuniu cerca de 40 trabalhadores da instituição.
Criado pelo Decreto Municipal nº 34.803/2011, o Circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana preserva a memória afro-brasileira na região portuária do Rio de Janeiro. O trajeto destaca a presença africana e seu legado cultural, reunindo espaços marcantes da história negra no Brasil. Além de valorizar a arte e a cultura da população negra, a iniciativa reforça a importância da ancestralidade e da resistência na construção da identidade nacional.
O percurso foi guiado pelo historiador Alexandre Cassiano, do Instituto Pretos Novos (IPN), e proporcionou uma imersão na história e na cultura afro-brasileira. O trajeto incluiu locais emblemáticos, como a Pedra do Sal, o Mercado Escravagista do Cais do Valongo e a Praça da Harmonia. A caminhada teve início com a história de Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e seguiu pelo Morro da Conceição, o Largo do Depósito, a Casa da Tia Ciata e o Jardim Suspenso do Valongo. O percurso foi finalizado no IPN, um dos mais importantes espaços de preservação da memória afro-brasileira.
Atividade foi conduzida pelo historiador Alexandre Cassiano, do Instituto Pretos Novos. Foto: Mario Ferreira (Cedipa)
A experiência foi transformadora para os participantes. "Um resgate da história que não temos conhecimento, ou por ignorarmos ou porque não queremos ter. Foi uma aula, nós absorvemos e aprendemos para melhorar a nós mesmos, e quando aprendemos, a gente muda também o pensamento das pessoas que estão ao nosso redor", reflete Thereza Amorim, assistente administrativa da Coordenação-Geral de Infraestrutura dos Campi (Cogic).
Já para o chefe do Laboratório Toxicológico do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), Ronald Santos Silva, essa vivência reforça o compromisso com a luta antirracista: "É uma oportunidade para despertar o interesse de quem não conhecia essa história e, mais do que isso, propagar conhecimentos que muitas vezes são apagados. Quando reconhecemos e valorizamos essa memória, ajudamos a combater o racismo estrutural".
"O circuito oferece às pessoas que participam a oportunidade de revisitar a história da diáspora africana e da luta de um povo que sobreviveu à tragédia e às violências terríveis da escravização, explorando os vestígios deixados pelo sofrimento e pela resistência dos povos africanos", afirma a responsável pelo Eixo de Enfrentamento às Desigualdades Étnico-Raciais da Cedipa, Roseli Rocha. Para ela, iniciativas como essa são fundamentais para estimular a reflexão e ampliar o conhecimento sobre o racismo e os seus impactos na produção das desigualdades raciais no país. "Precisamos conhecer essa história e diversas outras que foram apagadas ou não contadas pela historiografia oficial, para transformar nossa realidade e construir uma sociedade antirracista, mais justa e equânime", completa.
Atividades na Fiocruz apoiaram os 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo
A campanha dos 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo é uma iniciativa autônoma, apartidária e sem fins lucrativos, que busca reforçar a luta antirracista de forma contínua e cotidiana. Criada em 2016 pela ativista Luciene Lacerda, a campanha tem como marco central o dia 21 de março, reconhecido pela ONU como o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial. A data rememora o Massacre de Sharpeville, ocorrido em 1960 na África do Sul, quando 69 jovens foram mortos e 186 ficaram feridos em um protesto pacífico contra o apartheid.
Promovida pela Cedipa, a iniciativa fez parte da campanha 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo. Foto: Mario Ferreira (Cedipa)
A mobilização reforça que, em um país onde 56% da população se autodeclara negra (soma de pretos e pardos, segundo dados do IBGE), o combate ao racismo precisa ser permanente. Sem vínculo governamental, a campanha cobra a efetiva implementação de políticas públicas e leis antirracistas já aprovadas, indo além de ações simbólicas. Seu objetivo é conectar movimentos sociais, organizações e instituições comprometidas com a eliminação do racismo, fortalecendo redes de enfrentamento e impulsionando mudanças estruturais na sociedade.
Além da visita ao Circuito da Herança Africana, a Cedipa realizou, com apoio da Coordenação de Comunicação Social (CCS), a campanha Fiocruz contra o racismo – essa luta também é sua!. A ação reuniu trabalhadoras e trabalhadores para registros fotográficos individuais e coletivos acompanhados de frases sobre a luta antirracista.
A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) promoveu, no dia 14/3, a Feira Preta, reunindo culinária afro-brasileira, artesanato, moda, cosméticos naturais e serviços de empreendedores negros e quilombolas. O evento também contou com uma sessão de cinema, exibindo os filmes Carolina Maria de Jesus e Atrás Não É Mais o Meu Lugar, sobre a poetisa Celeste Estrela.
O Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz organizou o evento Trajetórias Negras no Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia), que destacou as vivências profissionais e pessoais das trabalhadoras de Lorena Magalhães, Karina Ferreira dos Santos Soares, Marcela Maiana Ramos da Silva e Carine Machado Azevedo.
A Comissão Interna de Respeito à Diversidade (CIRD) do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) realizará no dia 27/3 o encontro Saúde da população negra e educação antirracista, das 14h às 16h. A iniciativa será marcada por uma intervenção cultural e pela apresentação de dados sobre a saúde da população negra, especialmente no território onde a Fiocruz está inserida.