Entrevista Com o Presidente Mario Moreira

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CCS
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Como parte da programação comemorativa dos 123 anos da instituição, o presidente da Fiocruz, Mario Moreira, participou do programa Bate Papo na Saúde, uma edição especial produzida pelo Canal Saúde que entrou no ar hoje (25/5). A conversa girou em torno dos desafios da Fundação neste momento do país e para o futuro, dos sistemas de saúde e de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) e da atuação internacional, reafirmada com a assinatura recente de acordos com a China e Portugal.  

Depois de falar do quadro desfavorável enfrentado nos últimos seis anos, Mario Moreira reafirmou o papel de instituição estratégica de Estado da Fiocruz e falou de alguns grandes desafios. Esse reconhecimento vem também no âmbito internacional. “Temos sido convocados para vários assuntos, por uma vigilância mais moderna e acesso da população a produtos de saúde”, disse. “Os acordos com China e Portugal foram assinados pela Fiocruz. “Por que não pelo Ministério da Saúde? Porque esses acordos vinham sendo trabalhados desde o ano passado devido a certa dificuldade de diálogo de outros países com o governo à época”, informou.  

“Temos um desafio que é aproveitar de fato esse alinhamento político atual, principalmente pelo alinhamento com a ministra Nísia no Ministério da Saúde, mas não só por isso. Também pelos outros ministérios e pela linha de governo já anunciada”, analisou. “Será muito importante para a Fiocruz o descontingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento de Ciência e Tecnologia, que vai fazer toda a diferença. Vai irrigar o sistema de Ciência e Tecnologia por um bom tempo – com projetos, cursos de pós-graduação, tudo o que você possa imaginar em relação à ciência”, prevê.  

Doenças crônicas 

Mario Moreira tratou de alguns dos grandes desafios internos. “A sociedade vem mudando rapidamente. Quando eu nasci, a expectativa de vida era de 56 anos. Quando o SUS foi criado, era de 62 anos. Hoje, é de 76”, comparou. “Nossa sociedade tem uma outra estratificação social, territorial, etária, que já vem trazendo novos desafios para o Sistema Único de Saúde. Esse é um alerta importante para a Fiocruz”, avalia. 

Essa mudança alterou o quadro sanitário do país e, hoje, doenças infectocontagiosas e doenças crônicas têm pesos semelhantes. Na visão do presidente, isso exige da Fiocruz nova maneira de olhar o SUS, de conduzir seus processos de formação de quadros e de inovação em novos produtos. Mario Moreira destacou a importância do Complexo Industrial da Saúde. “Temos o maior sistema público de saúde do mundo, o único que atende uma população de ais de 100 milhões de cidadãos”, afirmou.   

Capacidade tecnológica 

A Fundação foi a principal fornecedora de produtos para o Ministério da Saúde nos anos de 2021 e 2022. “A Fiocruz foi a primeira farmacêutica atuando no Brasil, mesmo considerando as multinacionais, e tem papel na regulação do mercado. Me refiro especificamente na regulação de preços. Onde a Fiocruz atua, os preços se reduzem bastante”, informou. Ele considera que é preciso agora reforçar a capacidade tecnológica. “Temos explorado uma rota da inovação pela transferência de tecnologia. Incorporamos vários produtos nos últimos anos, mas me preocupa que a gente desenvolva a capacidade tecnológica de desenvolvimento próprio”, disse. 

Sobre a atuação nacional, o presidente considera que a instituição, presente em 11 estados, caminhar para o fortalecimento da articulação com os sistemas de ciência e tecnologia e sistemas de saúde locais. “Acho que esse é o futuro que se coloca para nós, tanto na possibilidade de ter uma amplitude, mas também da sustentabilidade das nossas ações”, afirmou. 

Mario Moreira ressaltou a necessidade de financiamento e modernização da estrutura de CT&I, em prédios, equipamentos e plataformas tecnológicas. “Estamos num diálogo franco com o governo”, disse, depois de lembrar do conjunto de plataformas recentemente organizadas num esforço emergencial da pandemia de Cogvid-19 que se tornaram legado para o SUS.  

A realização de concursos também é uma demanda urgente. “Estamos negociando concursos público. Com a velocidade nas aposentadorias, temos um déficit acumulado”, lembrou.    

Meio ambiente 

Um dos desafios elencados foi a atuação institucional em relação ao meio ambiente. “As relações cada vez mais fortes e claras entre meio ambiente e saúde que vão requerer da Fiocruz um reposicionamento em sua agenda de pesquisa, de seus programas de pós-graduação e até mesmo das nossas estratégias de inovação nas nossas unidades tecnológicas. Cito especialmente Bio-Manguinhos e Farmanguinhos”, disse. A importância da agroecologia foi outro tema tratado na entrevista, assim como a questão da fome, das desigualdades sociais e inclusão.