A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), instituição de pesquisa e desenvolvimento em saúde pública ligada ao Ministério da Saúde, pretende lançar até o fim do ano um centro de pesquisa em clima e saúde na Amazônia. O espaço, que será instalado nas dependências da unidade da instituição em Rondônia, vai estudar a conexão entre a emergência climática, dinâmicas socioambientais da região e saúde pública.
Segundo Paulo Gadelha, doutor em saúde pública e coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, o objetivo do Centro de Saúde e Clima em Rondônia é criar um espaço que integre a expertise da Fiocruz com as necessidades regionais, especialmente em relação aos efeitos climáticos e ao desmatamento.
"O centro vai abordar questões de saúde, iniquidade e os desafios enfrentados pela região amazônica, promovendo uma interação entre o conhecimento tradicional das comunidades locais e o conhecimento científico no contexto da emergência climática", disse ao Um Só Planeta do jornal O Globo. Com isso, o centro pretende ser um ponto de referência para iniciativas de vigilância em saúde e pesquisa, com foco na realidade dos territórios amazônicos e na identificação de mecanismos que ajudem a lidar com os agravos de saúde relacionados ao clima.
A ideia é apresentar os principais eixos de atuação e lançar oficialmente o centro em Rondônia na COP30, a reunião da ONU mais importante sobre mudanças climáticas, que ocorre em Belém, no Pará, em novembro.
Gadelha participou na manhã desta quarta-feira da conferência Foecasting Healthy Futures Global Summit, no Rio de Janeiro, que busca angariar propostas dos participantes que possam influenciar diretamente a agenda de negociações da COP30.
Em sua fala, o especialista mostrou como o papel do Fiocruz no enfrentamento das mudanças climática no Brasil é multifacetado e envolve diversas iniciativas. A instituição tem buscado cada vez mais integrar a saúde pública com as estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. "Não é possível pensar nisso como uma área separada, isolada".
Segundo ele, as mudanças climáticas são a maior ameaça global à saúde humana e "a conexão entre as duas agendas é imperativa". Ele também ressaltou que a crise climática e suas consequências exacerbam problemas sociais, como pobreza e desigualdade.
A Fiocruz implementa programas de vigilância em saúde que permitem identificar ameaças climáticas em diferentes territórios e promove soluções ligadas a tecnologias sociais, além de colaborar com outras instituições e autoridades de saúde, tanto no Brasil quanto internacionalmente, para enfrentar os desafios da crise do clima.
Gadelha também discutiu a relação entre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e o aquecimento global, enfatizando que é "cada vez mais inútil discutir planos de desenvolvimento e políticas climáticas separadamente". Para o especialista, a agenda dos ODS deve estar "no centro de todas as políticas e planos para combater a mudança climática".
"Apenas 23 de 173 Contribuições Nacionalmente Determinadas já mencionaram explicitamente os ODS, o que indica um desafio significativo na implementação dessa conexão", ressaltou, defendendo que mais países signatários do Acordo de Paris incluam os ODS da ONU em seus planos nacionais de combate à emergência climática.
Foi nesse sentido, inclusive, que a Fiocruz estabeleceu em 2017 a "Estratégia do Fiocruz para a Agenda 2030", visando conectar seus programas e redes com os objetivos de desenvolvimento sustentável, com o objetivo de abordar essas questões de forma integrada para promover um futuro mais equitativo e sustentável.