Inad Reúne Especialistas Para Falar Sobre a Prevenção Do Ruído No Trabalho

Por
Marcelle Martins (Cogepe)
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Com o lema “Ruído no trabalho? Prevenção é a solução!” o Inad Brasil 2024 (Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído no Brasil) reuniu especialistas para falar sobre a necessidade de se adotar o princípio da prevenção para proteger a saúde dos trabalhadores. O evento aconteceu no dia 25 de abril, no Centro de Documentação em História da Saúde (CDHS/COC) e foi promovido pela Fiocruz e pela Sociedade Brasileira de Acústica (Sobrac).

Os desafios enfrentados na exposição ao ruído, as substância ototóxicas em ambientes de trabalho, os barulhos da cidade do Rio de Janeiro e a legislação, a transformação do ruído em oportunidade e a efetividade da NHO 01 e NR 15 na proteção da saúde auditiva foram os assuntos abordados durante o seminário. Clique aqui e assista ao seminário no canal da Cogepe no YouTube.

Desafios

Com 40 anos de existência, a Sobrac é uma associação civil, sem fins lucrativos, que congrega pesquisadores, profissionais, professores e estudantes, além de instituições públicas e privadas nas áreas da indústria, centros de pesquisa, universidades, prestadores de serviços, entre outros.

Durante o encontro, o secretário da Diretoria Nacional da Sobrac, Paulo Chagas (representando o presidente, Krisdany Vinicius Santos), destacou que o objetivo da instituição é contribuir para o desenvolvimento da acústica e de suas subáreas, tanto no campo científico quanto em suas aplicações. “Vamos além da conscientização. Queremos trazer a transformação concreta para a vida cotidiana para que os brasileiros tenham mais qualidade de vida”, finalizou em sua fala na abertura do evento. Para conhecer mais sobre a Sobrac, clique aqui.

Outro desafio apontando foi a vigilância. A coordenadora do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh), Rita Mattos, frisou que, na maioria das vezes, a medição do ruído não é feita de forma apropriada e não leva em consideração todas as possibilidades adversas. “Existem, por exemplo, solventes que interferem na questão auditiva. As vibrações também podem ser prejudiciais. Ambas não são consideradas no campo da vigilância. Pontos como o ruído excessivo e o cuidado com equipamentos de proteção, individuais e coletivos, também são de grande preocupação. Eventos como o Inad fortalecem ações neste sentido”, ressaltou.

A coordenadora de Saúde do Trabalhador (CST/Cogepe), Marisa Augusta de Oliveira, ampliou a discussão, indo além do ruído ocupacional. “O conforto auditivo - e não só considerar consequências diretas, como a surdez – é um ponto de atenção no que diz respeito à saúde pública. E nós, como instituição federal, devemos estar na vanguarda desta discussão”. 

Saúde e prevenção

Durante palestra “Saúde e prevenção da exposição ao ruído no trabalho”, a fonoaudióloga chefe do Serviço de Audiologia do Cesteh/Ensp, Márcia Soalheiro, destacou que, de acordo com o IBGE, são aproximadamente 25 milhões de pessoas com perda auditiva no Brasil. “Diante de números tão expressivos, o primeiro passo é a conscientização. Hoje, o que é oferecido para os trabalhadores não abarca suas necessidades. Pessoas expostas ao ruído ocupacional intenso têm de três a quatro vezes mais chances de se acidentarem, além da diminuição do estado de alerta, dificuldade de comunicação verbal, estresse e fadiga, que são alguns dos fatores que provocam acidentes”, explicou.

Os princípios básicos da prevenção ao ruído, conforme afirmado pela arquiteta responsável pelo Setor de Ambiências do Núcleo de Ambiências e Ergonomia (NAE/CST/Cogepe), Marta Ribeiro, elencados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), são três. “Levamos em conta os princípios da precaução, do poluidor pagador e da prevenção. Deste modo, consideramos que ruído deveria ser reduzido ao menor nível possível, para ter a menor chance de provocar danos à saúde. Os custos associados à poluição sonora deveriam ser cobrados do causador. Além disso, é necessário o planejamento de ações orientado por avaliação do impacto da saúde, considerando o ruído como fator de risco”, destacou.

Exposição química

Mais um causador da perda auditiva, segundo a representante do Laboratório de Toxicologia do Cesteh e Ensp, Thelma Pavesi, é a exposição a substâncias químicas. Em sua palestra “Ruído e substâncias ototóxicas em ambientes de trabalho”, Thelma destacou que, além da perda auditiva, as substâncias ototóxicas podem causar zumbido, hipersensibilidade a sons, sensação de ouvido tampado, tontura e vertigem. De acordo com a especialista, existem as substâncias neurotóxicas, que atingem diretamente o sistema nervoso. Elas causam, além da perda de audição, perda de visão e de equilíbrio.  “Infelizmente, ainda não temos pesquisas suficientes sobre as substâncias químicas que causam danos à audição. Precisamos ter mais discussões conjuntas, em fóruns como este, para termos diversos olhares sobre o assunto”, concluiu.

Durante palestra com o tema “Barulhos da Cidade do Rio de Janeiro e a Legislação”, o professor do Departamento de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Escola Politécnica/UFRJ, Ricardo Musafir, destacou que, desde 2011, a OMS considera a poluição sonora como o segundo maior problema ambiental que afeta pessoas no mundo, ficando atrás, somente, da poluição do ar. “Apesar de termos uma lei que delimita a altura de alarmes de garagens, música em bares, barulho de motos, ônibus e afins, temos ainda muitos desafios. Campanhas de afirmação são essenciais no processo de criar consumidores responsáveis com a acústica dos produtos. Apesar de tantos problemas na cidade como o tráfico e a pobreza, por exemplo, o ruído é parte da qualidade de vida da população e precisa ser levado em consideração e fiscalizado”, apontou.

Transformação

O professor Paulo Soares, da Universidade Estadual de Maringá, apresentou a palestra “Monetizando o silêncio: transformando o ruído em oportunidade”. O especialista destacou modelos que servem para mensurar danos da poluição sonora, como custos das horas não trabalhadas, de consulta médica, do tempo de deslocamento, incômodo, insônia, estresse etc. “Por exemplo, podemos fazer uma estimativa de custos diretos e indiretos relacionados ao tratamento médico provocado pelo distúrbio do sono causado pela exposição ao ruído, junto aos custos associados à redução da produtividade no trabalho devido à fadiga deste trabalhador”, exemplificou.

Paulo destacou algumas estratégias de ação para diminuição dos riscos do ruído: implementar o controle do ruído na fase dos projetos e não depois que as instalações e produtos já estiverem prontos, realizar monitoramento prévio e simulação para antecipar os problemas em relação ao ruído, formular níveis mínimos aceitáveis e, algo fundamental, promover a conscientização e educação do público.

Proteção auditiva

O professor Flavio Maldonado Bentes, da Fundacentro (Earj) fez palestra com o tema “A efetividade da NHO 01 e da NR 15 na proteção da saúde auditiva”. Segundo ele, as normas têm a preocupação de tratar das questões ligadas à saúde ocupacional. “A NR-15 possui limites de tolerância para o ruído contínuo ou intermitente e limites de tolerância para o ruído de impacto. O ruído contínuo e intermitente considera uma jornada de oito horas com exposição a 85 decibels ponderados na escala A. Já o ruído de impacto considera 130 decibels (linear); nos intervalos entre picos, o ruído existente deverá ser avaliado como ruído contínuo”, explicou.

Para Flavio, a exposição a níveis moderados de ruído, embora não resulte necessariamente em perda auditiva, pode causar incômodo. Mesmo que a legislação trabalhista abarque níveis de ruído insalubres com foco na perda auditiva (NR 15), é importante também considerar os níveis de incômodo adequados ao tipo de atividade desenvolvida, conforme a NBR 10.152: corrigida em 2020.

O evento foi transmitido ao vivo por meio do Canal da Cogepe no YouTube. Todos os anos, a campanha do Inad Brasil traz um tema e um lema para destacar os impactos do ruído na vida cotidiana, dando destaque aos prejuízos e cuidados relativos a um aspecto em específico.