Evento Debate Conservação Da Mata Atlântica Na Região Da Floresta Da Pedra Branca

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Isis Breves (Fiocruz Mata Atlântica)
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De que maneira os saberes tradicionais de comunidades quilombolas e da agricultura urbana podem contribuir para a conservação da Floresta? Essa foi a questão trabalhada nas pesquisas e ações do Projeto Sertão Carioca, que teve sua entrega e diálogo de resultados no Seminário Diálogos: Pesquisas e Mapeamento das agriculturas no Maciço da Pedra Branca, que aconteceu no campus da Fiocruz Mata Atlântica na última segunda-feira, 19 de junho.  

A Floresta da Pedra Branca, localizada na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, é o maior remanescente de Mata Atlântica local e a maior floresta urbana do mundo. Para promover ações de conservação ambiental na Floresta da Pedra Branca e entorno, o Projeto Sertão Carioca: conectando cidade e floresta, teve como objetivo contribuir para a conservação dos recursos naturais da região, com base em estratégias de uso e manejo sustentável da biodiversidade que valorizem os saberes tradicionais associados. O projeto é executado pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, em parceria com os três quilombos da Floresta da Pedra Branca e diversas instituições, como a Embrapa, Rede Carioca de Agricultura Urbana (Rede CAU), Fiocruz Mata Atlântica e INEA, além de associações comunitárias locais.

Segundo a coordenadora geral do Sertão Carioca, Ingrid Pena, da AS-PTA, “o projeto fez parte do Programa Petrobras Socioambiental, e teve início em dezembro de 2020. Teve como objetivo promover a conservação dos recursos do Maciço da Pedra Branca, a partir da valorização do conhecimento tradicional das comunidades quilombolas e agrícolas. Atuamos em três eixos: Sociocultural, Ambiental e Socioeconômico”, explica.

Ingrid descreve as ações que foram desenvolvidas e fortalecidas a partir do projeto: constituição de um museu no Quilombo Dona Bilina no Rio da Prata; cartografia social dos três quilombos existente no Maciço; oficinas; apoio às unidades de produção (SAFs quintais produtivos e hortas comunitárias); apoio à implementação do laboratório vivo Floresta Quilombola no Quilombo Cafundá Astrogilda; capacitação em tecnologias sociais; apoio às pesquisas ambientais; implementação de programa de educação ambiental e combate ao racismo para as infâncias; apoio de identificação de trilhas e pontos de memória; realização de curso de condutores de visitantes do Parque Estadual da Pedra Branca com foco nos quilombos; apoio à campanha Produtos da Gente; e apoio às feiras da Zona Oeste e pontos de comercialização destes produtos. “Foram diversas frente e ações que só conseguimos executar porque atuamos em rede e tivemos muitas parcerias importantes envolvidas nesse projeto”, destaca.

A Fiocruz Mata Atlântica, através do Projeto ARÁ/VPAAPS, foi uma grande parceira do Projeto Sertão Carioca na ação de formação em sementes, na construção de estratégias de apoio às associações comunitárias do Maciço da Pedra Branca, e, mais recentemente, na organização e acolhimento no campus para a realização do Seminário Diálogos. “O acolhimento desse evento na Fiocruz Mata Atlântica visa o fortalecimento das redes locais de agroecologia”, ressalta o coordenador executivo da Fiocruz Mata Atlântica, Ricardo Moratelli. “Essa ação está alinhada com nossa missão de construção de um território sustentável e saudável na região da Pedra Branca. É importante destacar também que o fortalecimento dessas redes de articulação é fundamental na promoção da saúde e permeabilidade do SUS nesses territórios vulnerabilizados”.

A Embrapa também foi um forte parceiro do Sertão Carioca. Liderada por Fabiano Baileiro, da Embrapa Solos, a pesquisa intitulada Comunidades Quilombolas do Maciço da Pedra Branca preservam o solo da maior Floresta Urbana do planeta e incrementam seus estoques de carbono do solo aponta que os solos sob sistemas agroflorestais manejados pelas comunidades quilombolas foram mantidos por séculos preservados, com sua estrutura física pouco afetada pelos manejos. Segundo os resultados, os maiores estoques de carbono observados nesses sistemas agroflorestais, em comparação às áreas de floresta amostradas, indicam que os solos destes sistemas sequestram maior quantidade de carbono que a própria floresta.

Já a pesquisadora da Embrapa Agrobiologia Mariella Uzêda contribuiu no projeto Sertão Carioca por meio de pesquisas sobre polinização dos ecossistemas. “O papel da agricultura urbana na conservação das abelhas nativas e na manutenção dos serviços de polinização nas áreas de amortecimento do Parque Estadual da Pedra Branca foi um estudo de avaliação que liderei e que apontou para um aumento da diversidade das espécies de abelhas nativas, nas áreas de agricultura na Zona Oeste e sendo maior que nas áreas de mata do parque”, explica.

A influência das atividades humanas nas áreas de amortecimento do parque, maior floresta urbana do mundo, foi tema da pesquisa liderada pela pesquisadora da Embrapa Solos, Bernadete Pedreira. “Identificamos através das principais atividades do maciço, como turismo, atividades socioculturais e a agricultura, os impactos ambientais na região”, relata. “Através de um levantamento secundário, foram apontados os problemas da interação homem-meio ambiente observados ao longo do tempo, como a erosão do solo, desmatamento, contaminação por agroquímicos e queimadas, conflitos sociais e fundiários, expansão urbana desordenada, entre outros. Porém, atualmente, há também nessa área impactos positivos provenientes das ações humanas que favorecem a geração de serviços ecossistêmicos, baseadas em princípios agroecológicos e no uso de boas práticas agrícolas, que são realizadas pelas comunidades quilombolas e de agricultura urbana”.

Por fim, Claudio Capeche, pesquisador da Embrapa Solos, explica sua participação no projeto. “Em parceria com a Comissão Pedagógica do Projeto Sertão Carioca e Instituto Permacultura Lab, contribuímos na elaboração da Cartilha de Educação Ambiental ABCDário. Ela contém uma descrição das palavras utilizadas no dia a dia das comunidades quilombolas do território. Além disso, realizamos oficinas com as crianças dos quilombos sobre conservação do solo, com atividades lúdicas como a oficina de tinta de solo. Como atividade de visita técnica nos quilombos, compartilhamos conhecimentos de como calcular declividade do terreno e marcação das curvas de nível na área do Quilombo Cafundá Astrogilda, sempre com o foco na conservação do solo e manutenção da biodiversidade”, finaliza.