Jogo de RPG ensina sobre gestão de riscos de forma lúdica e imersiva

By Tatiane Vargas (Informe Ensp)
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Um mergulho em um reino medieval repleto de alquimia, criaturas fantásticas e decisões críticas marca a proposta do RPG Presságios de Arouca: Chamados para o Mundo Subterrâneo, desenvolvido por Murilo Salles em parceria com o escritor e autor de jogos Thiago Gomes. A iniciativa integra o Programa de Aceleração da Inovação em Gestão da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) - edição 2024, promovido pelo Pólen/Ensp, e está atualmente em fase de testes.

Murilo, que coordena a Célula de Gamificação e Jogos Sérios do Pólen, explica que o jogo é mais do que uma aventura ficcional: é uma ferramenta de formação sobre gestão de riscos, voltada especialmente para o setor público. “A gestão envolve escolhas em um ambiente repleto de incertezas. Se não nos preparamos para os possíveis riscos, comprometemos nossos objetivos”, alerta.

Um mundo imaginário, mas com aprendizados reais

No RPG, os jogadores assumem papéis como Alquimista, Articulador, Conselheiro, Naturalista ou Sábio em Gonshmunán - uma homenagem fictícia ao campus de Manguinhos, sede da Fiocruz. O reino traz referências sutis à instituição, como o pássaro Arouca, o rei Oswaldo e a Biblioteca Real de Gonshmunán. Durante cerca de duas horas, os participantes tomam decisões colaborativas que afetam o desenrolar da narrativa, tornando a experiência imersiva e educativa.

“O RPG permite a criação de um ambiente seguro para experimentação, onde os erros não têm consequências reais, mas promovem um aprendizado profundo sobre suas causas e efeitos”, explica Murilo.

Da gestão ao storytelling

A ideia de criar Presságios de Arouca surgiu da experiência de Murilo Salles com a gestão de riscos, especialmente no contexto da saúde pública, e do desejo de abordar esse tema de maneira mais dinâmica e acessível. Para transformar esse objetivo em realidade, Murilo se uniu a Thiago Gomes, autor de jogos de RPG e romances ambientados nesse universo. Embora Thiago não tivesse familiaridade prévia com o tema da gestão de riscos, sua participação foi fundamental desde o início do projeto.

Juntos, criaram o jogo de forma colaborativa, integrando a bagagem técnica de Murilo com a expertise narrativa de Thiago. Ao longo do processo, Thiago mergulhou no universo da gestão, contribuindo ativamente para a construção do sistema, dos personagens e da história.

A proposta central do jogo é oferecer um ambiente seguro para que os participantes possam experimentar decisões complexas sem riscos reais, mas com alto potencial de aprendizado. Unindo narrativa, tomada de decisão e conceitos técnicos, o jogo encontra-se em fase de testes no Programa de Aceleração da Inovação em Gestão da Fiocruz (edição 2024), etapa que vem sendo essencial para adaptar a experiência às realidades da gestão pública.

Por que um jogo

A escolha pelo formato de RPG se justifica pela flexibilidade e pela capacidade de promover um aprendizado ativo. “Ao contrário de jogos com narrativas fixas ou competitivos, o RPG é colaborativo, moldado pelas decisões dos jogadores. Isso reflete bem o ambiente de incerteza da gestão de riscos, onde não há um único caminho certo e o processo importa tanto quanto o resultado”, ressalta Murilo.

Entre as vantagens do formato estão o estímulo à reflexão, o fortalecimento do trabalho em equipe e um aprendizado mais duradouro e significativo. “É uma maneira lúdica de pensar a gestão pública com seriedade, sem ser enfadonha”, completa.

Testes iniciais e percepções

Os testes iniciais do jogo renderam boas surpresas. Participantes relataram surpresa com o nível de imersão e com a leveza com que temas complexos foram abordados. “Foi marcante ver como eles começaram a perceber riscos não só sob uma ótica técnica, mas também emocional e social”, diz Murilo.

Entre os destaques apontados pelos jogadores estão a introdução à mentalidade de risco, a relevância da mitigação e prevenção, a análise crítica de cenários e o desenvolvimento de habilidades como planejamento estratégico, comunicação e tomada de decisão em grupo. Apesar de alguns desafios pontuais com termos técnicos, os feedbacks foram amplamente positivos.

Próximos passos

Com base nas observações dos primeiros testes, a equipe já prepara uma versão aprimorada do jogo, que será novamente testada em maio. Além disso, Presságios de Arouca será apresentado no Convergência 2025 - evento nacional sobre inovação em gestão pública - que acontece em Belo Horizonte, de 2 a 4 de junho.

Para Murilo, o maior valor do projeto é sua capacidade de transformar a percepção sobre a gestão de riscos. “Estamos construindo uma nova forma de pensar incertezas: com criatividade, colaboração e espírito crítico. E é animador ver como as pessoas estão cada vez mais abertas a aprender jogando”.