A terceira edição do programa Inova Fiocruz impulsionou o desenvolvimento de uma ferramenta aberta (open source), baseada nos princípios FAIR (dados encontráveis, acessíveis, interoperáveis e reutilizáveis), para monitorar em tempo real o marketing digital dos substitutos do leite materno em plataformas digitais. Um protótipo da ferramenta, totalmente financiada pela Fiocruz, foi apresentado em um evento paralelo da 78ª Assembleia Mundial da Saúde (AMS) da Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra, na quarta-feira (21/5), com a presença de autoridades nacionais e internacionais.
A ferramenta está sendo desenvolvida pelo pesquisador Cristiano Boccolini, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict/Fiocruz). “Observamos que alguns países estão adotando ferramentas pagas e não customizadas, feitas por empresas que oferecem o serviço por meio de cobrança anual. Essas soluções são uma caixa preta, já que não sabemos quais algoritmos estão sendo usados, o que está sendo extraído, enfim, não se tem controle do que é feito. O diferencial da ferramenta da Fiocruz é que é programada em código aberto e é gratuita. Então o usuário tem controle de todo o processo do monitoramento, quais sites estão sendo acompanhados, quais palavras-chave são utilizadas, quais os produtos de interesse, permitindo, assim, o acesso completo a todo o processo. É uma ferramenta que varre tanto os sites comerciais quanto as redes sociais, anúncios pagos, os dark posts, entre outras coisas”, explica Boccolini, que tem chamado o protótipo de Digi-Code. A ferramenta foi promovida por um edital da Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz).
“A ferramenta é modular, pode ser utilizada em partes. E é escalável, ou seja, pode ser adaptada para outros países e contextos. No mundo não existe solução gratuita como esta. As ferramentas pagas não dão clareza de todo o processo. Quem usar a ferramenta da Fiocruz terá controle e conhecimento de todas as informações do monitoramento, bem como o gerenciamento das bases de dados. É um grande avanço para a saúde pública, já que mais à frente poderá ser usada para monitorar propaganda de álcool, tabaco, cigarro eletrônico, refrigerante e outros produtos. E temos a perspectiva de entregar para outros países, no futuro”, destaca o pesquisador.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, presente ao evento, lembrou que esta quarta-feira é o Dia Mundial de Proteção ao Aleitamento Materno. Ele saudou a contribuição da Fundação ao tema. “Reconheço a fundamental atuação do presidente da Fiocruz, Mário Moreira, e a dedicação de pesquisadores e trabalhadores da instituição na discussão sobre o tema. Temos muito orgulho da contribuição da Fiocruz para a implementação dos bancos de leite no Brasil e em outros países. Esta é uma das mais importantes ofertas do Brasil na cooperação internacional na defesa dos direitos de mulheres e crianças. É uma honra representar o Brasil na defesa de nossas crianças e da saúde pública”.
Padilha destacou que “a amamentação é um dos pilares mais eficazes para garantir o início saudável da vida. Ela protege contra a desnutrição, reduz a incidência de doenças infecciosas, previne obesidade e doenças crônicas e promove o desenvolvimento cognitivo. Ainda assim, com numerosos benefícios, os índices de aleitamento exclusivo e continuado estão aquém do ideal. No Brasil, apesar de avanços, em 2019 apenas 46% dos bebês eram amamentados exclusivamente até os 6 meses e somente 35% aos 2 anos”.
Presidente da Fiocruz, Mario Moreira afirmou que a instituição tem, há décadas, um compromisso com a promoção do aleitamento materno. “Nossas parcerias internacionais, a Rede Global de Bancos de Leite Humano, todas as iniciativas nesse campo mostram que, para a Fundação, é fundamental valorizar o aleitamento e levar à frente esta bandeira, que salva vidas e previne doenças”.
A representante do governo mexicano, a embaixadora Francisca Méndez, afirmou que as ações em favor do aleitamento materno não significam “estar contra a indústria, mas sim ser a favor das crianças, da sua saúde, de seus direitos e futuro. O México está empenhado em trabalhar com todos para garantir que cada criança, independentemente de onde nasça, tenha a oportunidade de ter um início de vida saudável”.
O Ministério da Saúde brasileiro, a Comunidade de Prática de Nutrição e Saúde na América Latina e no Caribe (Colansa), a Incubadora Global de Promoção da Saúde (GHAI) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) são os patrocinadores do evento paralelo da OMS. Os organizadores são a Fiocruz, o Instituto de Defesa dos Consumidores (Idec), a Aliança Global para uma Alimentação Saudável para Crianças (Alsanna), a Rede Internacional de Ação pela Alimentação (IBFAN), a Federação Mundial da Obesidade (WOF) e a Associação Internacional de Consultores de Lactância (Ilca).