O assédio no trabalho é pauta cada vez mais frequente nas instituições públicas brasileiras. “Somos uma instituição de Estado e o Estado, em sua essência, tem que ser promotor de cidadania, não pode ser violento”, afirmou Andréa da Luz, coordenadora da Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas (Cogepe/Fiocruz) em palestra para trabalhadores do Banco Central do Brasil no dia 30 de junho. Andréa foi convidada para falar da experiência da Fiocruz frente ao assédio no evento BC Bem-Estar.
“Se há sofrimento do trabalhador, temos que atuar, independente se é crime ou não. A violência é uma questão de saúde”, enfatizou Marisa Augusta de Oliveira, coordenadora da Coordenação de Saúde do Trabalhador (CST/Cogepe/Fiocruz) durante encontro com representantes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Marisa foi convidada para ministrar capacitação, no dia 27 de junho, para um grupo de pessoas responsável por elaborar e implementar uma política de enfrentamento ao assédio na universidade.
Fiocruz como inspiração
“Venho de uma instituição de 123 anos, que foi destaque na pandemia e é lembrada na saúde, mas tem suas questões internas. A violência é comumente presente na sociedade brasileira e isso não é diferente dentro das instituições”, disse Andréa. Durante o BC Bem-Estar, Andréa apresentou a trajetória da Fiocruz frente às violências no trabalho, destacando a atuação formal da instituição desde 2009, quando foram criadas a Comissão de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio Moral (extinta com a implantação do Sistema de Integridade) e o Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça até a estruturação da Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas em 2023. “Temos uma longa história e vimos um conjunto de amadurecimentos internos que nos levam a tratar essa questão de forma integrada”, disse.
No encontro, a coordenadora da Cogepe apresentou a jornada da Fiocruz frente ao assédio moral e sexual, mas falou também de outras violências que podem estar relacionadas a eles como o etarismo, o racismo, a xenofobia, a LGBTQIA+fobia e o capacitismo, apontou as legislações que dispõem sobre o tema e amparam as instituições em suas ações e preveem punições, apresentou os eixos de atuação da Fiocruz e, por fim, pontuou os aprendizados da Fundação.
“Desde a primeira cartilha, lançada em 2014, a Presidência declarou que a Fiocruz não tolera o assédio. A comunicação clara da direção é fundamental”, reforçou. A coordenadora comentou que a formalização de uma cartilha não deve ser apenas um mero documento, mas um pacto de não violência institucional, ressaltou a necessidade de organizar um sistema em que o acolhimento, o tratamento e a apuração de denúncias estejam reunidos, destacou a importância de promover ações de valorização das diferenças, de saúde do trabalhador e de organização do trabalho. “O Estado tem que promover as diferenças, temos que lidar com todas as pessoas, não temos que ter preconceitos”, enfatizou.
Além de palestrar no BC Bem-estar, Andréa assessora um grupo do banco que pretende avançar no combate às violências internas. “Aprendemos com a Andréa o quão importante é ter em mente a integração de vários programas e ações que envolvem bem-estar, integridade e diversidade”, disse Marcelo Foresti Cota, chefe do Departamento de Gestão de Pessoas, Educação, Saúde e Organização do Banco Central.
Aprofundando conceitos para definir estratégias
A Universidade de Juiz de Fora também promoveu evento para debater o assédio. No dia 27 de junho, a pró-reitoria de Gestão de Pessoas realizou capacitação para representantes de diversos setores da universidade que estão pensando como enfrentar o assédio na UFJF. A coordenadora da CST, Marisa Augusta, foi convidada a conversar com o grupo compartilhando a experiência da Fiocruz.
“O encontro de capacitação buscou aprofundar o entendimento dos conceitos de assédio e conhecer o que fazemos na Fiocruz para ajudar a pensar as estratégias de atuação na universidade”, explicou. Marisa apresentou os conceitos, reforçou a diferença entre assédio e conflito, destacou as legislações relevantes e falou sobre as ações da Fiocruz, reforçando a importância da prevenção. “Essa iniciativa é primordial para se pensar alternativas saudáveis nos processos e relações de trabalho, porque propostas preventivas de promoção da saúde são sempre a melhor solução. E a parceria interinstitucional gera aprendizado”, disse.
Desde que a Fiocruz lançou a cartilha Assédio Moral, Sexual e Outras Violências no Trabalho (versão atualizada e ampliada) em 2022, tem sido convidada a trocar experiências com outras instituições. Acesse a cartilha e assista aos vídeos sobre as sete violências no trabalho que são apresentadas nela no canal da Cogepe no YouTube.