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Simpósio internacional debate autonomia na produção de medicamentos


09/05/2024

Camila De' Carli (Agência Fiocruz de Notícias)

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A busca por autonomia e desenvolvimento da capacidade de produção de medicamentos e tecnologias em saúde no Brasil e nas Américas foi o foco do debate da mesa de abertura do 8º Simpósio Internacional de Imunobiológicos, na terça-feira (7/5), que contou com a participação do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom. O evento, promovido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) até esta sexta-feira (10/5), tem o objetivo de integrar profissionais, pesquisadores e instituições de desenvolvimento e produção de biológicos de todo o mundo.

Em mensagem por vídeo enviada ao evento, Tedros Adhanom lembrou a lição deixada pelas restrições no acesso a medicamentos e outros produtos de saúde durante a pandemia de Covid-19 e enfatizou a necessidade de desenvolver as capacidades produtivas locais. "Essas iniquidades mostraram por que devemos reforçar a nossa produção e distribuição e fortalecer nossa capacidade regulatória. Por isso, estabelecemos o Programa de Transferência de Tecnologia para Vacinas de mRNA, na Cidade do Cabo, com parceiros em 15 países, incluindo a Fiocruz", disse Adhanom. "Agradeço a Bio-Manguinhos e à Fiocruz pela parceria e por ampliar o acesso a produtos que salvam vidas", acrescentou.

O presidente da Fiocruz, Mario Moreira, ressaltou a contribuição de Bio-Manguinhos para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) por meio de uma maior autonomia tecnológica. "O SUS atende 203 milhões de pessoas, das quais 75% dependem exclusivamente desse sistema. Pensar em um sistema como este sem uma produção local forte é condená-lo à sua inviabilidade", afirmou. 

Moreira argumentou que o alargamento da infraestrutura industrial, como o que tem sido feito pelo governo federal na fábrica de Bio-Manguinhos, que está sendo construída em Santa Cruz, precisa estar atrelado a uma estratégia de desenvolvimento da capacidade tecnológica e de inovação. "Nossas parcerias nacionais e internacionais serão fundamentais para isso". 

A relevância de Bio-Manguinhos como um ator da saúde global também foi destacada pelo presidente: "Há uma expectativa muito grande sobre o papel de Bio-Manguinhos no esforço mundial de redução de assimetrias no acesso a produtos de saúde. Bio-Manguinhos já tem uma ação internacional importante, como na exportação de vacinas de febre amarela e meningite e foi convocado para ser o hub de vacina de mRNA para atender às demandas do Brasil e da América Latina. E também se coloca como uma instituição capaz de formar quadros para que a região seja autônoma na fabricação de produtos de saúde. É uma enorme responsabilidade".

Compromisso regional

Em convergência com Mario Moreira, o diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, enfatizou, por mensagem por vídeo, a importância em desenvolver ecossistemas que resultem em maior capacidade produtiva e inovação na América Latina. "Investimentos na produção farmacêutica não apenas contribuem para reduzir a dependência de importação como geram empregos e estimulam o desenvolvimento econômico da região". 

Barbosa lembrou, ainda, que a América Latina "não parte do zero" no desenvolvimento desses ecossistemas, contando com bases sólidas no que se refere a tecnologias em saúde, regulação, inovação e capacidade produtiva. "O Brasil, por exemplo, tem produtores como Butantan e Bio-Manguinhos, que fornecem vacinas e imunobiológicos para o Programa Nacional de Imunizações (PNI). Ao mesmo tempo, há capacidade produtiva pública e privada na Argentina, em Cuba, no México, na Nicarágua, e outros países, como a Colômbia, têm expressado um forte compromisso em aperfeiçoar suas capacidades de produção".

Para a representante da Opas no Brasil, Socorro Gross, a América Latina e o Caribe se encontram em um momento propício para superar sua história de dependência. "Temos a possibilidade de nos preparar para produzir o que a nossa região precisa. Produzir para hoje e para o futuro. Para uma região que está envelhecendo muito rapidamente, que precisa de produtos que ainda não fabricamos e que tem a capacidade de absorver o que produz". 

A representante da Opas chamou a atenção, especialmente, para as condições promissoras no Brasil: "É um país continental, tem uma grande política de proteção social, tem mais de 200 milhões de habitantes, tem o SUS, tem uma capacidade de compra muito grande e tem um talento humano muito bem desenvolvido, com muitas universidades e pesquisadores". Para ela, falta ao país tornar as políticas públicas voltadas para a produção de insumos de saúde em uma política de Estado, e não apenas de governo. "É preciso uma política de Estado para ser um grande produtor [de insumos de saúde], como já existe para ser um grande produtor de carnes e grãos".

Também participaram da mesa de abertura, o diretor de Bio-Manguinhos, Maurício Zuma, que aproveitou a ocasião para agradecer aos parceiros; o assessor científico sênior de Bio-Manguinhos, Akira Homma; o coordenador-geral de Promoção e Regulação do Complexo Industrial do Ministério da Saúde, Marcelo de Matos Ramos; e o presidente da FGV, Carlos Ivan Simonsen Leal. O 8º Simpósio Internacional de Imunobiológicos (8th International Symposium on Immunobiologicals - ISI, na sigla em inglês) acontece entre 7 e 10 de maio no campus de Manguinhos da Fiocruz e na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. 

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